Editorial do JBO.
Na mesma semana em que autoridades da área de segurança pública apresentaram um diagnóstico preocupante sobre os índices de homicídios em Ilhéus, a cidade ganhou de presente mais duas notícias, no mínimo, polêmicas: o fechamento de uma creche mantida por um grupo empresarial da cidade há 10 anos e a nova lei que obriga as 29 mil crianças matriculadas na rede municipal de ensino a rezar o “Pai Nosso”, todos os dias, em ambiente escolar.
E você, caro leitor, deve estar se perguntando: sim, e o que uma coisa tem a ver com outra que mereça um título como este acima?
Tudo, amigo.
O diagnóstico sobre a violência apresenta índices que revelam que esta cidade é, de há muito, um barril de pólvora. Aqui, jovens pobres e negros matam e morrem silenciosamente sem que a cidade tenha a verdadeira noção do futuro que se constrói, principalmente, na periferia da cidade. Fossem pessoas de posse e de sobrenomes influentes encontradas estiradas em vias públicas, certamente o impacto seria outro. E as iniciativas de solução, também.
Ilhéus está armada e sangrenta. A cada 100 homicídios registrados na cidade, entre 2006 e 2010, 73 usaram revólveres para cometer o crime. 94 dos mortos eram homens; 90, solteiros; 61, com idade entre 15 e 29 anos; 82 não tinham sequer concluído o primeiro grau.
Estes números – e estes jovens - são mais que estatísticas preocupantes sobre vítimas da violência na cidade. São protagonistas da falta de oportunidade, da falta de estudo, com direito a um caminho sem volta em direção ao tráfico de drogas e as suas consequências.
É no bairro do Malhado, onde hoje se fala em fechar uma creche que abriga 500 crianças carentes, onde se registra o maior índice de homicídios em Ilhéus.
Ora, se a educação é a grande ferramenta de transformação social, não há como deixar de lincar uma coisa a outra.
Enquanto Prefeitura e empresário brigam para decidir se fecha ou não fecha a creche, novos crimes são executados. Outros, planejados. Novos personagens entram para o tráfico no papel de fornecedores e consumidores. Pretos, pobres e jovens continuam a morrer.
É óbvio que não devemos esquecer o papel de cada um para se chegar ao desfecho que impeça o fechamento do espaço. Se não há condições imediatas, que as busquem com equilíbrio e sensatez. Se não há como disponibilizar recursos públicos para destinar a um espaço privado, que se crie outras alternativas de ajuda.
500 inocentes crianças, que buscam não se permitir entrar nesta estatística estarrecedora, devem estar acima dos interesses políticos, econômicos, pessoais. São vidas inocentes que merecem respeito e atenção. Não são fantoches nem marionetes do poder. São vidas.
Esperamos, pois, que o bom senso prevaleça. Que os erros sejam corrigidos, as irregularidades detectadas, sanadas, que a creche seja mantida, que o futuro ganhe uma oportunidade. Que muitas daquelas vidas, sejam capazes, através da educação, de mudar o seu próprio destino. Que a prefeitura faça a parte dela. E o empresário, a dele.
Senão só nos restará pedir ao vereador Alzimário Vieira Belmonte -, autor do projeto que obriga a todos os estudantes da rede, independentemente da sua opção religiosa, a orar o Pai Nosso -, que amplie de 29 mil para 250 mil o número de pessoas obrigadas a cumprir a tal “Lei da Guritada”, fazendo com que toda a cidade passe, por lei, a orar por seus mortos..
… e pelas pessoas insensíveis e descompromissadas que nos governam e que nos representam na sociedade.
Deus seja louvado!
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