sexta-feira, 15 de junho de 2012

A DOR DE UM FILHO AO VER O SOFRIMENTO DO PAI

Rildo ao lado de Seu Antônio (Álbum pessoal).
Rildo Mota
Gostaria de relatar, publicar e compartilhar este acontecimento que vivi no último domingo que culminou com o falecimento de meu pai. O fato relata o descaso, a falta de atenção, o pouco caso que vem sendo dado à saúde das pessoas no Hospital Geral Luiz Viana Filho, onde o povo é atendido nos corredores, sem macas, em cadeiras de rodas e, muitas vezes, até mesmo no chão.
Com meu pai, um idoso doente de 90 anos, não foi diferente.
Domingo, dia 10 de junho, ele estava internado no Abrigo São Vicente, entidade que dá aos idosos atenção e carinho como vejo poucos locais no mundo fazerem. Foi levado ao hospital regional por estar fraco e com uma das pernas muito inchada, aparentado estar apresentando Erisipela.
Acompanhado de uma enfermeira graduada e um atendente de enfermagem, ele foi levado às 14 horas à urgência do Regional pra receber atendimento devido à gravidade da situação e no abrigo não eram suficiente os recursos locais. Chegando ao Regional, sem macas, meu pai foi posto numa cadeira de rodas sem descanso para os pés. O médico plantonista, depois de demora considerável, o atendeu superficialmente, alegando que só o atendia pela idade, mas que já estava indo embora e não atenderia mais ninguém. Passou os olhos em meu pai, pôs um soro e saiu.
Para encontrar a veia e aplicar este tal soro, aí começa outro sofrimento. Muito magro, os enfermeiros não encontraram a veia e usaram como acesso a jugular no pescoço do meu velho, uma dor, uma tortura. Depois de aplicado este soro, meu pai permaneceu sem atendimento numa cadeira de rodas, amparado pacientemente pela enfermeira do abrigo, que jamais se afastou dele e ficou segurando seu pescoço durante mais quase 3 horas com as próprias mãos. Sim por que nestas três horas meu pai continuava numa cadeira de rodas, com a perna que apresentava Erisipela liberando uma água que já formava uma poça no corredor do hospital. Meu pai gemia, gritava de dor e cansaço de estar sentado há horas naquela cadeira. A moça com câimbra nos braços de tanto tempo segurando seu pescoço.
Eu chorava ao ver aquela cena. Era triste ver meu pai jogado ali, como um lixo humano e ninguém conseguia ver o sofrimento daquele velho homem pobre, alem de mim, meu irmão e os enfermeiros do abrigo.
Nenhuma maca apareceu. Nenhum médico apareceu. Ninguém veio olhar a perna de meu pai, isso já há mais de 4 horas. Nem mesmo um médico qualquer para que pudéssemos tirar ele daquele lugar horroroso, pois só um médico poderia fazer isso. A infecção aumentando e meu pai desfalecendo. Depois de tanta dor, humilhação e sofrimento, mais de 7 horas da noite, o médico do abrigo, que não estava na cidade, chegou e foi até o hospital, atendeu meu pai, olhou, assistiu, deu carinho, afago, atenção e arrancou dele aquele que deve ter sido seu último sorriso.
Decidimos interná-lo no hospital São José. Sem ambulância, este médico anjo carregou meu pai no colo e levou ele em seu próprio carro. Chegando no São José, uma equipe atenciosa, carinhosa e atenta já o esperava.
Fizeram de tudo, mas meu velho não aguentou e morreu. Meu Deus que desespero.
Não sei se o pouco caso do hospital regional o levou a morte. Mas, sem dúvida, queria que nas últimas horas de sua vida ele fosse tratado com respeito e dignidade. E ali isso ele não teve.
Gostaria de agradecer a todos do Abrigo São Vicente e do Hospital São José pela atenção e carinho que recebemos o tempo todo. Escrevo aqui minha indignação e acho até que escrevi pouco. Mas estou a disposição de qualquer pessoa que queira conversar mais comigo sobre este fato lamentável assim, eu posso falar até o que eu posso não ter descrito aqui.
Rildo Mota é publicitário.

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