O aumento da demanda por docentes com
curso superior impulsionou os candidatos a professores no país a buscarem essa
capacitação em cursos mais rápidos ou em programas de formação de docentes
simplificados. Eles têm procurado também o ensino a distância, sem forte
regulação e monitoramento. Os dados estão na publicação Professores do
Brasil, que foi lançada esta semana, em São Paulo, pela Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil e a
Fundação Carlos Chagas (FCC).
O livro Professores do Brasil,
que trata dos desafios na formação de docentes no país, é o terceiro de uma
série que fornece amplo panorama da docência: formação, trabalho e
profissionalização. Ele foi produzido a partir do projeto Cenários da
formação do professor no Brasil e seus desafios. A publicação é resultado
de estudos feitos pelas pesquisadoras Bernardete A. Gatti, Elba Siqueira de Sá
Barretto e Patrícia Albieri de Almeida, da Fundação Carlos Chagas; e Marli
Eliza Dalmazo Afonso de André, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC).
O material mostra ainda o perfil do
estudante de licenciatura no país, ressaltando pontos importantes. Por exemplo,
os estudantes da docência têm renda mais baixa que os de outras licenciaturas:
cerca de 61,2% dos estudantes, de 2014, tinham renda de até três salários
mínimos. E, desse total, um em cada quatro estudantes tem renda salarial de até
1,5 salário mínimo.
“Do início deste século para agora,
eles [estudantes de licenciatura] se tornaram mais pobres, provenientes de
família com menos instrução”, disse Elba Siqueira de Sá Barretto, professora da
Universidade de São Paulo e pesquisadora e consultora da Fundação Carlos
Chagas, em entrevista à Agência Brasil. “Entre os estudantes de
licenciatura, em torno de 42% têm pais que fizeram apenas o primário
incompleto. Só 9% desses estudantes têm pais com nível superior”, acrescentou.
“Essa é uma tendência. Cada vez mais o magistério no Brasil está sendo
procurado pelos segmentos mais empobrecidos. E essa tendência ficou mais clara,
mais acentuada”, disse.
Outro aspecto indicado na pesquisa é o
número de mulheres, que conclui as licenciaturas, ser maior que o de homens e
negros a maioria entre os estudantes. [A presença de negros na licenciatura
passou de 35,9% em 2005, para 51,3% em 2014]. “De 14 cursos de
licenciatura [segundo dados do Enade], em 11 deles havia 50% ou mais de alunos
negros ou pardos. E todos os cursos de licenciatura também têm índios
representados, embora em pequenas proporções”, informa Elba.
“Eles [estudantes de licenciatura] já
eram alunos mais pobres. Esse não é um fenômeno brasileiro, acontece em vários
países da América Latina, desde os anos 2000. Muitos dos alunos de licenciatura
são os primeiros a chegar ao Ensino Médio e ao Ensino Superior”.
De acordo com a pesquisadora, a
licenciatura é também um curso predominantemente feminino. “Mas percebemos
recentemente que as matrículas dos homens está aumentando”, disse,
acrescentando ainda que, a maior parte desses estudantes de licenciatura não só
estudam: "Eles estudam e trabalham e ainda mantém a família”. Para Elba,
isso significa o quanto é necessário trabalhar para poder estudar.
O estudo constatou também um
envelhecimento no perfil dos licenciandos: a presença de jovens entre 18 e 24
anos que fazem licenciatura passou de 34,7% em 2005 para 21% em 2014.
Esses fenômenos decorrem, segundo a
pesquisadora, entre outras razões, por causa do estabelecimento da Lei de
Cotas. “Houve também financiamento desses cursos privados e a abertura de
muitas vagas nas instituições públicas para que eles pudessem fazer o Ensino
Superior”, acrescentou.
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